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[post_content] => No último domingo (08/09), mais de 500 pessoas participaram da 11ª edição da
Caminhada com Humor, um evento animado que faz parte do 51º Salão Internacional de Humor de Piracicaba. Com o apoio do Instituto Arcor, da Arcor do Brasil e outros parceiros, essa atividade contagiante reuniu famílias, amigos e grupos para um momento de movimento e alegria.
Confira as melhores cenas dessa caminhada, cheia de diversão, no vídeo especial que preparamos!
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Por Roberta Rocha Borges
“Verdadeiras inovações são tão difíceis de aceitar e apreciar. Elas abalam as nossas referências, porque nos forçam ver o mundo com um novo olhar. Elas nos abrem ao que é diferente e inesperado.”
(Rinaldi, 2016)
A PESQUISA COMO FORMA DE APRENDER
A pesquisa é a maneira sensível das crianças enxergarem o mundo físico e social, este mundo que é tão fascinante e curioso, onde as crianças adotam a postura de interrogar este universo. É o modo como aprendem sobre as coisas, fazem as primeiras perguntas, mas também dão as primeiras interpretações e explicações e que não são particularmente leais, porque abandonam com frequência suas ideias, substituindo-as por outras, incessantemente. Elas sabem que nada está pronto e acabado, pois abraçam o imprevisto e o provisório, pois assim vão aprofundando suas ideias e pensamentos com o intuito de construírem as teorias e os conceitos do universo que vivem, buscando compreendê-lo.
Não há dúvida de que o ser humano já nasce pesquisador, pela forma singular que os bebês investigam o mundo, a partir das suas ações e das suas intuições. Esse mecanismo de investigação dos bebês vai ganhando elementos a partir das explorações que eles realizam em cada etapa do seu desenvolvimento.
O abrir e fechar caixas, empilhar blocos, tampar potes, organizar uma coleção de folhas, observar o formato e as cores de variadas sementes… A cada novo exercício exploratório de conhecimento do mundo físico, o processo da pesquisa que se iniciou com os bebês vai se aprimorando e ganhando novos elementos. Com isso, a escola de Educação Infantil que investe nesse desabrochar da pesquisa, desde a primeiríssima infância, vai proporcionando às crianças essa capacidade de funcionamento cerebral, ou seja, a capacidade de desenvolver o pensamento científico e crítico, num exercício exploratório constante e enriquecedor.
Outro elemento importante que surge a partir dos dois anos é a função simbólica, que, em síntese, é a capacidade de representar o mundo, comunicar-se e de interiorizar as suas ações. É com essa capacidade que percebemos o quanto a criança pequena raciocina intuitivamente e ao logo do tempo começa a raciocinar de maneira mais dedutiva, como explicita a autora:
O pensamento da criança de dois até seis anos é intuitivo, ou seja, ela substitui a lógica pelo mecanismo da intuição. Assim, a criança, diante de alguns problemas práticos, apresenta respostas que se apoiam nas aparências dos fatos, o que ocorre porque a criança pequena não infere de um modo dedutivo, nem indutivo, dependendo seus pensamentos quase sempre de deduções por analogia. Isso acontece porque as crianças dessa idade deduzem um caso particular de outro caso particular, sem se referir a uma lei comum que os ligue, o que acontece pelo fato do pensamento dela ser caracterizado, ainda, pela falta de reversibilidade (enxergar um problema a partir de diferentes pontos de vista) e ausência de conservação. (Borges, 2021, p. 12)
Então, na educação infantil, quando as crianças ganham essa capacidade, torna-se visível o funcionamento cada vez mais elaborado do pensamento científico. As crianças apresentam essa autêntica e própria forma de conhecer do ser humano, ou seja, de descobrir, criar, representar, levantar hipóteses e trazer novas ideias e pensamentos daquilo que iniciou com uma simples pergunta.
Nesse processo tão complexo e inerente do ser humano, podemos compreender a força do trabalho científico das crianças, bem como a subjetividade, a singularidade, a identidade, a potência do pensamento de cada uma delas.
É importante ressaltar que toda investigação pressupõe buscas, descobertas e perguntas; por isso, quando o professor planeja trabalhar com esse caminho, a temática escolhida para ser investigada deve possibilitar a ação da criança, como se ela se assemelhasse a um pequeno cientista curioso. A pesquisa propõe, em sua essência, uma didática envolvente. Um caminho tão fascinante, apaixonante e convidativo que possibilita o despertar da vida na escola.
Esse caminho não é nada linear, pois a pesquisa não se origina toda planejada e pronta para percorrer um único direcionamento. O caminho é construído a partir da escuta atenta, de observação cuidadosa, do processo dialógico e de uma reflexão frequente.
A pesquisa possibilita o trabalho com o currículo aberto, flexível e emergente, cujo conteúdo nasce do cotidiano das experiências de pesquisa das crianças. Esse é um dos principais motivos pelos quais as crianças têm grande interesse por essa proposta de trabalho.
E, ao longo desta trajetória, vamos observando, no cotidiano na escola de educação infantil, aquilo que é mais expressivo para o aprendizado das crianças; então, nós, profissionais da área, nos interrogamos:
- Com o que as crianças mais se envolvem?
- Que tipo de teoria provisória essas crianças têm?
- Como posso desafiar essas teorias?
- O que as crianças pensam sobre essas teorias?
- Como elas registrariam essas teorias?
- Como é possível entender e detalhar o trabalho de um tema por um período mais longo e aprofundar os processos de aprendizagem das crianças?
- Como o trabalho deve prosseguir?
- Como documentar?
Para compreender e responder a essas questões é necessário começar pela caracterização do trabalho com projetos de pesquisa, que consiste em uma investigação profunda de um tema que vale a pena estudar ao longo de um ano letivo. Ele pode surgir a partir de uma proposta escolhida pela professora, a partir da escuta ou da observação dos diálogos e interesses das crianças, mas deve proporcionar às crianças a vivência concreta dos caminhos da pesquisa, praticando o exercício do pensamento científico.
Na tabela abaixo, é possível compreender o caminho da pesquisa a ser vivenciado a partir das várias ações que são realizadas entre crianças e professores:
Professores |
Crianças |
Propõem e acolhem a escuta da temática de interesse das crianças. |
Escolhem a temática. |
Projetam a pesquisa |
Contribuem na projetação, trazendo as suas experiências. |
Aprofundam seus estudos sobre a temática. |
Trazem suas ideias provisórias. |
Montam os contextos investigativos. |
Vivem os contextos investigativos. |
Colhem as ideias, pensamentos e gestos. |
Narram, desenham, pensam, criam as experiências que estão vivendo. |
Projetam experiências para estudos do meio. |
Vivem as experiências do meio. |
Documentam as ações, pensamentos e colhem os registros, fotografias, etc. |
Produzem desenhos, expressam por meio de escrita e fala, criam, etc. |
Fonte: Elaborada pela autora
Uma etapa também fundamental desse processo de pesquisa que se dá ao longo do percurso vivido é a documentação pedagógica. Os registros documentativos dão a oportunidade ao professor de observar o desenvolvimento, identificar novos interesses e projetar situações desafiadoras para as crianças.
O PAPEL DO PROFESSOR PESQUISADOR
Quanto ao professor cabe ser pesquisador, junto com as crianças. Ele deve desempenhar o papel ativo na investigação, observando as ações curiosas das crianças, realizando perguntas a elas e a si mesmo. Deve, ainda, levantar hipóteses, contribuindo com o foco da investigação, oportunizar bons contextos de aprendizagem e documentar o processo vivido. Esse professor pesquisador não dá respostas prontas; levando uma programação curricular fechada e pouco flexível, ele deve observar atentamente as ações realizadas pelas crianças, os olhares curiosos, as buscas, os interesses e as perguntas.
Esse conjunto de atitudes leva o professor a conhecer o que as crianças querem saber sobre o assunto, assim como o que lhes interessa. Além disso, o professor deve sempre ter a curiosidade de acompanhar o caminho da pesquisa que as crianças estão percorrendo, e deve se debruçar nesse trabalho se interrogando sempre: escutar as crianças nesse processo dá ao professor um profundo sentimento de originalidade, ao despertar seu papel de professor pesquisador. Escutar abre uma janela importante de querer estar perto da criança e envolver–se nos processos de aprendizagem. A escuta nos oferece ferramentas imprescindíveis ao trabalho: o deslumbramento, o maravilhar-se, o assombro, a reflexão e a alegria de estar com os meninos e as meninas no cotidiano da escola. Para inserir a pesquisa na escola como um processo do cotidiano, é necessário compreender claramente as etapas do percurso a ser vivido, caso contrário corremos o risco de retornar a uma didática programada, sem sentido para as crianças.
CONCLUSÃO
O professor pesquisador organiza toda essa rica trajetória que abre espaço para a construção e descoberta espontâneas, criando condições e abrindo campos de interação, vivência e exploração para a criança pesquisadora.
Esse rico trabalho, desenvolvido na escola, ficará marcado na vida de cada uma dessas crianças, que levarão na sua bagagem o valor da atividade da pesquisa no seu caminho mais completo: da experiência à formulação de teorias.
Enfim, como nos ensina Mantoan (2017), na pesquisa não buscamos um saber simplificado, limitado, reduzido – somente pela palavra, pela informação. Precisamos buscar aprofundar, ir além, saber minuciosamente sobre as coisas, observar os detalhes e apropriar-se do conhecimento.
PARA CONTINUAR LENDO
BORGES, Roberta Rocha.
A creche como instituição dedicada à primeira infância e concebida a partir de fóruns públicos situados na sociedade civil. São Paulo: Forma escrita, 2015.
BORGES, Roberta Rocha.
Curso de extensão universitária PROEPRE: contribuição para formação de professores da creche. 2009. 327p. Tese (doutorado) - Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação, Campinas, SP. Disponível em: https://hdl.handle. net/20.500.12733/1609594. Acesso em: 2 abr. 2024.
BORGES, Roberta Rocha.
Novo olhar para a infância: a pesquisa das crianças e o professor pesquisador. Fundação Feac, Universidade Estadual de Campinas, Núcleo de Estudos de Políticas Públicas. Programa de Estudos de Política Pública para a Educação Infantil. Campinas, SP.: NEPPFEAC, 2021. v.2.
DAHLBERG, Gunilla; MOSS, Peter; PENCE, Alan.
Beyond Quality in Early Childood Education and Care: Postmodern Perspectives. London; New York: Routledge: Falmer Taylor & Francis Group, 2004.
GOLDSCHMIED, Elionor; JACKSON, Sonia.
Educação de 0 a 3 anos: o atendimento de creche. Porto Alegre: Artmed, 2006.
MALAGUZZI. Loris. Histórias, ideias e filosofia básica. In: EDWARDS, Carolyn; GANDINI, Lella; FORMAN, George (Org.)
As cem linguagens da criança: a abordagem de Reggio Emilia na educação da primeira infância. Porto Alegre: Artmed, 1999. p. 59–104.
MANTOAN, Maria Teresa Egler. A pesquisa como prática educativa: construir novos modos de ensinar na escola. In: BORGES, R.R.; CANTELLI, V.; MARIOTTI, A.; PEREIRA, R. (Org.).
Do projetar o contexto investigativo ao maravilhar–se: Quais caminhos seguir? Ed. 148 Educação, 2017.
MOSS, Peter. Microprojeto e macropolítica: aprendizagem por meio de relações. In: EDWARDS, Carolyn; GANDINI, Lella; FORMAN, George (Org.).
As cem linguagens da criança: a experiência de Reggio Emilia em transformação. Porto Alegre: Penso, 2016. p.113–117 e 124.
REGGIO CHILDREN.
Regimento escolas e creches para infância da Comuna de Reggio Emilia, 2013.
RINALDI, C.
Diálogos com Reggio Emilia: Escutar, investigar e aprender. São Paulo: Paz e Terra, 2012.
RINALDI, C. Documentação e Avaliação: qual relação?
In: ZERO, PROJETO. Tornando visível a aprendizagem: crianças que aprendem individualmente e em grupo. São Paulo: Phorte Editora, 2014, p. 80-90. (Coleção Reggio Emilia).
ROBERTA ROCHA BORGES é Doutora em Educação, na área de Desenvolvimento Humano e Educação pela Faculdade de Educação da UNICAMP, com pós-doutorado em Educação pela mesma faculdade. Realizou parte do seu doutorado na Universidade do Minho no Instituto da Criança em Braga – Portugal e na Université de Genève, nos Archives de Piaget em Genebra – Suíça. Realizou estágios como parte das atividades do seu doutorado nas Creches e pré-escolas públicas de Reggio Emilia, na Itália, e nas creches públicas de Barcelona, na Espanha. Participa da equipe de pesquisadores do Núcleo de Estudos de Políticas Públicas - NEPP, coordenando o Programa de Estudos em Políticas Públicas para a Educação Infantil. Integra o LEPED como professora colaboradora. Docente e autora do curso de extensão: Pesquisa na escola – da pergunta inicial à documentação pedagógica. É professora do Programa de Pós-graduação da Faculdade de Educação da UNICAMP. Organizadora dos Fóruns: Internacional de Educação Infantil e de Educação Infantil como Política Pública do Núcleo de Estudos de Políticas Públicas da UNICAMP.
*Artigo publicado no Livro Cultura da Infância, do Instituto Arcor.
Para fazer o download da publicação completa, CLIQUE AQUI.
INFÂNCIAS VIVENCIADAS: ROBERTA ROCHA BORGES
- Qual era a sua brincadeira favorita; em casa, no quintal, na escola?
Minha escola tinha uma casa de boneca maravilhosa, tudo em miniatura: o quarto, a cozinha e a sala. Além disso, era equipada com mobiliário parecido com o de uma casa real. Então, poder brincar nesta casa era entrar em um mundo só meu.
Tive a oportunidade de crescer em uma casa com um quintal exuberante, mas neste quintal havia uma árvore cujo nome popular era Chorão. À tarde, depois da escola, eu subia nesta árvore com os meus irmãos, sempre lavávamos algo para comer e tínhamos muitos assuntos para conversar sobre os acontecimentos da escola que havíamos vividos. Lembro-me até hoje das risadas que dávamos.
- Alguma música da sua infância que sempre ecoa em sua memória? Escreva um trechinho dela.
A casa, Vinícius de Moraes: “Era uma casa muito engraçada, não tinha teto, não tinha nada, ninguém podia entrar nela não, porque na casa não tinha chão…”
- Qual brincadeira de rua você mais participava com outras crianças?
Andávamos de bicicleta e nos sentíamos livres!
- Quais adultos foram marcantes positivamente em sua infância?
Uma tia, irmã da minha mãe, que era professora, e amava os seus sobrinhos.
- Um livro, história ou autor inesquecível que descobriu na sua infância.
A bolsa Amarela de Lygia Bojunga.
- Alguma coisa que dava medo quando criança?
As sombras de algo que aparecia no quarto escuro que eu não identificava.
- Um sonho de criança… Ele foi realizado?
Queria ser professora, ensinar crianças, estar junto delas. Penso que realizei este sonho.
- Tem uma criança dentro de você. O que você diria para ela?
Sim, tem uma criança dentro de mim, penso isso porque tive uma infância muito feliz e, quando olho para esse tempo, digo para essa criança: — você nasceu em uma família que a amava. Você tinha uma irmã que era sua companheira, dois irmãos aventureiros e pais que te acompanharam e apoiaram em todo o seu percurso de vida.
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[post_content] => Brincar é essencial para o desenvolvimento das crianças, não é mesmo? Afinal, é através das brincadeiras que elas exploram o mundo, desenvolvem habilidades e fortalecem vínculos. Vamos celebrar o
Dia da Infância, que acontece em 24 de agosto, proporcionando momentos de diversão e aprendizado com o
Jogo da Serpente e da Escada!
Baixe os arquivos gratuitamente nos links abaixo e divirta-se pintando o tabuleiro e procurando as pedrinhas para jogar. Essa brincadeira é indicada para crianças a partir de 5 anos e promete muita alegria!
Faça o download nos links abaixo:
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Por Vilma Silva
TUDO COMEÇA COM CURIOSIDADE – SERIA ENTÃO UM DIREITO?
Inicio esta conversa com algumas perguntas sem respostas para gerar outras perguntas sem respostas. Tenho em mim que as perguntas são aliadas da curiosidade.
De onde vem sua curiosidade?
Você tem familiaridade com ela?
Quais marcas ela deixou/deixa no seu corpo?
Como ela se transformou e te transformou ao longo dos anos?
A palavra curiosidade, que vem do latim curiositas, desejo de conhecer, também carrega em si outras palavras: cura e idade.
Pablo Neruda (1904-1973), poeta chileno, era um curioso, perguntava mais que criança, muitas perguntas pareciam absurdas ou difíceis de responder. No “Livro das perguntas”, que é uma espécie de testamento poético do olhar menino do poeta, elas aparecem a partir de um jeito diferente de ver as coisas, divertidas, reflexivas, verdadeiros labirintos que servem para indagar o cotidiano.
Das que mais me tocaram, compartilho algumas:
“Quando vejo de novo o mar,
o mar me viu ou não me viu?
O amarelo dos bosques
é o mesmo do ano passado?
E por que o céu está vestido
tão cedo com suas neblinas?
É verdade que no formigueiro
os sonhos são obrigatórios?”
São tantas, que talvez não seja mesmo para encontrar respostas. Mas uma coisa é certa, o poeta continua acessando o manancial da curiosidade que existe na cabeça questionadora de todas as crianças, aquele que tem vontade de conhecer e de descobrir com todos os sentidos.
Mas esse manancial ainda existe em nós? Como preservar?
Secou?
No Grupo de Pesquisa FIAR/UFF, onde realizei parte dos meus estudos, a formação estética docente tem sido nosso foco de investigação para compreender os processos de percepção, sensibilidade e interpretação do mundo, sempre em constante estado de pergunta como, por exemplo:
Onde acontece a formação estética do professor? Como sua história de vida, dentro e fora da escola, desenhou percursos formativos pela via estética? Qual a contribuição da arte para a formação dos professores de Educação Infantil? A arte está presente em seus processos formativos – de que maneira, em que tempos, que espaços, com quem? (Ostetto, 2019, p. 60-61).
Pensamos que a formação estética está conectada com a singularidade do cotidiano, nas formas de encontros de cada um, nas experiências que alimentaram o ser poético ou silenciaram as muitas maneiras de ser e estar no mundo. Em minha pesquisa/tese, ressalto que “[…] Presenças e ausências contam na formação ao longo da vida, pois nos deslocam em aprendizagens e, entre dores e delícias, marcam a educação de nossas sensibilidades.” (Silva, 2022).
Como formadora, pergunto-me como contribuir no processo de formação estética de professores que trabalham com crianças para assumirem a dimensão estética como princípio, ou seja, uma formação que possa ativar, refinar e desenvolver a sensibilidade, abrindo espaço para a curiosidade.
Por isso, as propostas de formação, em especial de formação estética, devem considerar os processos de percepção, de imaginação, de interpretação, de subjetividade e de sensibilidade. E quem sabe resgatar o “[…] (re) encontro com o feito à mão, o artesanal; que provoquem memórias, que abram oportunidades para cada um falar de si, tecendo o sentir no coletivo. Essa perspectiva coloca em foco as experiências, na articulação entre passado, presente e futuro.” (Silva, 2022).
Já para as crianças, o lugar de curiosidade está na exploração de corpo inteiro, pronto para o que der e vier. Nas palavras da educadora italiana Rinaldi (2012), a criança é forte, poderosa e rica em potenciais e recursos, desde o nascimento. Percebe o quanto “[…] é conduzida pelo enorme potencial de energia de 100 bilhões de neurônios, pela força do desejo de crescer e de levar a sério a tarefa de crescimento, pela incrível curiosidade que a leva a procurar a razão de todas as coisas”.
O que fazemos com essa ordem natural de explorar o mundo das crianças?
Os sentidos são nossas portas de acesso ao mundo, e as crianças têm o direito legal de vivenciar um currículo, a partir de princípios estéticos, éticos e políticos. E se estamos falando em direito, chamo para essa conversa o educador, artista plástico e escritor italiano, Gianfranco Zavalloni, que lançou, em 1994, um manifesto com os 10 direitos naturais da criança. Em seu livro “A pedagogia do caracol: por uma escola lenta e não violenta” (2015), convite é para adotarmos um olhar que priorize a desaceleração da educação para as escolas poderem acolher a inteireza do ser criança.
Nesses direitos, Zavalloni vai tecendo outros paralelos imprescindíveis para nós, educadores, olharmos, como o tempo expandido, a qualidade dos espaços e a relação com a natureza.
O direito ao ócio;
O direito a se sujar;
O direito aos odores;
O direito ao diálogo;
O direito ao uso das mãos; O direito a um bom início; O direito à rua;
O direito ao selvagem; O direito ao silêncio;
O direito às nuances.
Quem sabe esses direitos possam se juntar com outros direitos para garantir uma educação que conecta os fios numa trama de sentido. Estética, atenção, corpo, percepção, hipóteses, perguntas, novas perguntas e outras e mais outras, tecendo assim, o direito à curiosidade.
PARA CONTINUAR LENDO
NERUDA, Pablo. Livro das perguntas. Tradução: Ferreira Gullar. São Paulo: Cosac Naify, 2008.
OSTETTO, Luciana Esmeralda. Com o pensamento do coração, entrelaçando docência e formação estética. Atos de Pesquisa em Educação. Blumenau, v.14, n.1, 2019. Disponível em: https://doi.org/10.7867/1809-0354.2019v-14n1p57-77. Acesso em: 023 BR. 2024.
RINALDI, Carla. Diálogos com Reggio Emilia: escutar, investigar e aprender. Tradução: Vania Cury. São Paulo: Paz e Terra, 2012.
SILVA, Vilma Justina, Ateliês de espaços efêmeros na formação estética docente: atravessamentos e ressonâncias. 2022. 345f. Tese (Doutorado em Educação) - Programa de Pós-Graduação em Educação, Faculdade de Educação, Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2022.
ZAVALLONI, Gianfranco. A Pedagogia do caracol: por uma escola lenta e não violenta. Tradução: Renata Holmuth Motta. Americans, SP: Adonis, 2015.
VILMA SILVA é educadora, aprendente, pesquisadora, provocadora, curiosa e encantada. Pedagoga e Mestre em Educação e Currículo pela PUC/SP.
Doutora em Educação na Universidade Federal Fluminense (UFF), na linha de Pesquisa, Linguagem, Cultura e Processos Formativos, com cotutela na Universitat de Giro-na (UdG), na Espanha, e Arte e Educação.
Atua na área de Educação, com foco na infância. Inquieta com a formação dos educadores e os espaços de formação, fundou o “Calore Ateliê – Educação, Cultura e Arte” em São Paulo/SP, onde trabalha com consultoria, assessoria, cursos e ateliê orgânico.
*Artigo publicado no Livro Cultura da Infância, do Instituto Arcor.
Para fazer o download da publicação completa, CLIQUE AQUI.
INFÂNCIAS VIVENCIADAS DE VILMA SILVA
- Qual era a sua brincadeira favorita; em casa, no quintal, na escola?
Por mais incrível que pareça, minha brincadeira favorita era dar aula para um milharal que tinha no terreno ao lado da minha casa. Eu colocava uma lousa na parede e os milhos enfileirados eram meus alunos. E eu era bem brava, reproduzia as referências que tinha…
- Alguma música da sua infância que sempre ecoa em sua memória? Escreva um trechinho dela.
Minha casa não era muito musical, mas meu pai era poeta e compositor repentista, então minhas memórias são das poesias dele. Dizia meu velho pai, “nem sempre as coisas saem do jeito que a gente pensa”. Abraão Justino.
- Qual brincadeira de rua você mais participava com outras crianças?
Brinquei muito na rua de terra, que depois foi asfaltada. Jogar taco era uma brincadeira de equipe bem legal e sempre presente no nosso grupo.
- Quais adultos foram marcantes positivamente em sua infância?
Sem dúvida meu pai. Ele foi toda a minha referência do lúdico. Tive uma infância mágica com ele.
- Um livro, história ou autor inesquecível que descobriu na sua infância.
História dos Saltimbancos, pois participei de uma peça de teatro na Biblioteca Municipal do bairro. Ganhei o papel da gata e isso marcou muito a minha infância. Cantar, decorar toda a história, interpretar e apresentar várias vezes para muitos públicos.
Alguma coisa que dava medo quando criança?
Sempre tive medo de escuro e filmes de terror. Permanece.
- Um sonho de criança… Ele foi realizado?
Eu sonhava em ser modelo, professora, viajar para o exterior; creio que o realizei. Depois tive mais sonhos. Não paro de sonhar.
- Tem uma criança dentro de você. O que você diria para ela?
Minha criança é muito viva, ela é minha pulsão de vida, temos uma relação de intimidade, gratidão e cuidado.
[post_title] => O BRINCAR COMO UM DIREITO DA CRIANÇA
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