Participaram como convidados os educadores brincantes Lucilene Silva e Adelsin, da Casa das 5 Pedrinhas, organização que se dedica à difusão e valorização da cultura da criança. A mediação foi de Claudia Chebabi, gerente de programas da FEAC, que na apresentação fez um convite à reflexão sobre a relevância das brincadeiras mesmo em tempos e espaços radicalmente transformados em consequência da pandemia – clique no botão Play (acima) e assista à live na íntegra.
Patrimônio imaterial – A relevância das brincadeiras como um patrimônio imaterial da humanidade foi ressaltada por Lucilene Silva, que é graduada em Letras, mestre e doutoranda em Música pela Unicamp. Ela observou que o fenômeno da globalização despertou uma forte preocupação em todo mundo com o patrimônio cultural, material e imaterial, como nos casos das brincadeiras construídas pelas diferentes culturas e pelos diversos saberes ao longo dos tempos.
“A globalização provocou muitos questionamentos sobre perda de identidade, pasteurização das manifestações culturais, e as brincadeiras também fazem parte desse debate”, disse a educadora. “O boom do patrimônio, material e imaterial, é fruto dessa reflexão sobre o lado bom e ruim da globalização”, completou Lucilene, que também integra a equipe da OCA – Escola Cultural, onde são desenvolvidas várias ações com crianças da Aldeia de Carapicuíba (SP).
O educador e pesquisador da cultura infantil Adelsin observou que, de fato, as brincadeiras estão presentes na cultura da infância em todos os povos, “desde que o mundo é mundo”. “As brincadeiras estão entre os gestos atemporais, universais, resultantes dos impulsos naturais do ser humano”, completou.
Nos últimos tempos, foram reduzidos e transformados os territórios e os tempos que permitem as brincadeiras, lembrou Adelsin, que é formado em Artes Plásticas pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e é autor de livros como “Barangandão Arco-Íris – 36 brinquedos inventados por meninos” (Editora Peirópolis).
Nesse momento de isolamento social, continuou, tempos e espaços ficaram ainda mais limitados, mas isso não significa, entretanto, que foi prejudicada a diversidade e a riqueza do repertório das brincadeiras.
Pelo contrário, Adelsin afirma notar que muitas brincadeiras da infância estão sendo resgatadas no convívio necessariamente mais próximo entre pais e filhos durante a quarentena. “Há uma riqueza guardada de brincadeiras imemoriais que está conseguindo aflorar, em pleno isolamento social”, ressaltou.
A casa brincante – Os dois educadores comentaram como o ambiente da casa, em tempos de isolamento social, foi recuperado como espaço brincante. Lucilene Silva citou nesse sentido vários exemplos de brincadeiras que crianças e adultos estão promovendo, mesmo no reduzido espaço de apartamentos.
“Recebi o vídeo de uma avó brincando com os netos e eu fiz questão de elogiá-la”, contou a pesquisadora, que também disse receber constantemente pedidos de crianças de “novas brincadeiras de corda ou de mãos”, para execução no ambiente doméstico.
Adelsin concordou e citou um elenco de brincadeiras que podem acontecer dentro de casa, como cabanas de cobertor ou lençol, bolhas de sabão, dobraduras, teatro de sombras, ou até mesmo “esconder debaixo da mesa, carregar na cacunda, pegar no colo”.
O papel das histórias – O papel das histórias, faladas e cantadas, como parte essencial das brincadeiras na cultura infantil foi igualmente evidenciado pelos educadores na live. Histórias da tradição e aquelas que podem ser inventadas, acentuaram.
Lucilene Silva sublinhou que a linguagem das histórias é fundamental inclusive como meio de expressão das crianças sobre o momento singular e atípico que estão experimentando, longe da escola e dentro de casa. “Através das histórias as crianças podem elaborar e expressar os seus medos, assim como também suas alegrias, e não é diferente em relação ao coronavírus. Já vi muitas crianças falando que querem que esse coronavírus vá embora logo, para que possam retomar o que faziam antes”, comentou.
Para Adelsin, em tempos de isolamento social, “muitos estão percebendo a falta que o espaço faz, a importância da natureza na vida do ser humano”. Nesse sentido, ele espera que nesse momento crítico seja aprofundada a reflexão sobre como no pós-pandemia pode ser construído “um modo novo, mais adequado para receber a criança e suas brincadeiras, como movimentos tão espontâneos do ser humano”.
O conteúdo da live “Brincando em casa: encontro de gerações” também está no canal do Instituto Arcor no Youtube: https://youtu.be/Y6Bx_aXadgA