FÓRUM DA REDEAMÉRICA DEBATEU PAPEL DAS EMPRESAS NO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

26 outubro 2017
FÓRUM DA REDEAMÉRICA DEBATEU PAPEL DAS EMPRESAS NO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

O papel das empresas e dos institutos e fundações empresariais na construção do desenvolvimento sustentável e, particularmente, no apoio à edificação de comunidades sustentáveis foi o tema central do IX Fórum Internacional da RedEAmérica, realizado entre os dias 14 e 17 de março em Córdoba, na Argentina, tendo a Fundação Arcor como uma das anfitriãs.

Foram muitas conferências e mesas redondas, além de painéis e world coffe, ao longo da extensa programação. O Fórum foi realizado na Universidade Empresarial Siglo 21 e teve a participação dos mais de 70 associados da RedEAmérica, uma aliança hemisférica voltada a contribuir com a construção de comunidades sustentáveis na América Latina. As boas vindas da Universidade Siglo 21 foram apresentadas por Andrés Pallaro, vice-reitor de Inovação, Pesquisa e Pós-graduação.

Posição da RedEAmérica –  “Na RedEAmérica acreditamos na interdependência entre a competitividade e a sustentabilidade das empresas e os territórios onde elas operam”, disse Beatriz Mejía, diretora da Fundação Smurfit Kappa da Colômbia e presidente da Junta Diretiva da RedEAmérica, comentando o tema geral do IX Fórum Internacional: “Empresa e Comunidade: Promovendo Comunidades Sustentáveis – o papel das empresas no entorno social”.

De acordo com Beatriz Mejía, a RedEAmérica considera “fundamental o papel das empresas na liderança em reconhecer a diversidade dos atores e condições do território onde atuam, para avançar de maneira conjunta” no rumo das comunidades sustentáveis.

Ela destacou ainda como a RedEAmérica tem contribuído, ao longo de sua trajetória – de 15 anos, lembrados em Córdoba – para que empresas e organizações de investimento social privado “transcendam o enfoque assistencialista até a potencialização das capacidades e condições das comunidades, para que avancem no processo de desenvolvimento sustentável”.     

Por sua vez, a diretora-executiva da RedEAmérica, Margareth Florez, reiterou o convite da aliança hemisférica para que as empresas “contribuam com o desenvolvimento sustentável dos territórios e das comunidades onde estão inseridas”.

A diretora-executiva complementou afirmando que, para a RedEAmérica, o setor empresarial “pode contribuir com esse desenvolvimento não apenas com o investimento social privado, mas também através de suas próprias operações quando gera valor social através do negócio para as comunidades”.

Do discurso para a ação – A abertura do IX Fórum Internacional da RedEAmérica contou com a participação de Victoria Morales Gorleri, Subsecretária de Responsabilidade Social do Ministério de Desenvolvimento Social do governo argentino.

Ela relatou a série de visitas que tem feito em muitas comunidades argentinas, em todos os pontos do país, como uma das ações adotadas pela Subsecretaria de Responsabilidade Social para “decifrar os melhores caminhos para que o desenvolvimento sustentável dessas comunidades seja um fato”.

Uma das conclusões que vem tirando, dessas conversas com múltiplos atores de “comunidades as mais vulneráveis e dos mais distantes territórios”, é a de que grandes esforços, de vários setores, estão sendo feitos pelo desenvolvimento local. Entretanto, alertou, são geralmente “ações isoladas, porque existe pouca ação em rede real”.

Nesse sentido, defendeu que sejam construídas “estratégias articuladas” pelos diferentes atores que atuam em um território, mantendo-se as bandeiras individuais de cada um, mas efetivamente com uma atuação conjunta, para um impacto mais efetivo. De modo que seja superado o discurso e que sejam implementadas ações concretas, Victoria Morales Gorleri sustentou que “todos devem sentar juntos para pensar coletivamente quais estratégias devem ser executadas, de modo que aconteça o desenvolvimento sustentável real que desejamos para toda a América Latina”.

Empresas e crise econômica – Os desafios para uma consistente ação do setor empresarial, como importante parceiro na construção de comunidades sustentáveis, em um cenário de forte volatilidade econômica, como tem acontecido em vários países do continente, foram destacados na conferência de Bernardo Kosacoff, ex-diretor da Comissão Econômica para América Latina (Cepal) na Argentina.  

A dificuldade de manutenção de “sólidas regras do jogo” é um dos grandes desafios para o setor empresarial no continente, frisou Kosacoff, lembrando que as empresas têm contribuído para gerar renda e emprego, na medida em que consigam “articular o processo de especialização produtiva e o crescimento como fundamental para gerar inclusão”.

A economia volátil impacta de forma negativa nos processos de desenvolvimento, salientou o ex-diretor da Cepal, para quem a dinâmica de deterioração e exclusão social na Argentina, especificamente, “demorará muito tempo para ser superada”. Um dos efeitos das incertezas, acrescentou, é a enorme dificuldade de planejamento a médio e longo prazo por parte das empresas.

Kosacoff admitiu que o setor empresarial eventualmente sofre com queda de prestígio e observou que a globalização, se gerou efeitos positivos em muitas situações, em muitos casos provocou a necessidade de “medidas compensatórias para gerar coesão social”. É esse contexto mais amplo que o setor empresarial deve considerar, em suas estratégias de cooperação para a construção de comunidades sustentáveis, concluiu o ex-diretor da Cepal.

Objetivos de Desenvolvimento Sustentável – As oportunidades de participação do setor empresarial nos processos relacionados aos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, que vigoram entre 2016 e 2030, foram destacados por René Mauricio Valdéz, representante das Nações Unidas na Argentina.

 Ele defendeu que as empresas podem contribuir de muitas formas, e de modo específico com a transição para uma economia de baixo carbono. “Se não é possível reduzir a emissão de carbono, é viável a compensação, através do plantio de árvores”, exemplificou.     

Desafios para a atuação do setor empresarial também foram evidenciados por Sebastian A.Bigorito, diretor do Conselho Empresarial para o Desenvolvimento Sustentável (CEADS) na Argentina. Ele lembrou que a organização foi criada no cenário da Conferência Rio-1992, no Rio de Janeiro.        

As empresas e outros atores, afirmou, atuam hoje em um cenário de “altas expectativas e de baixa confiança ou credibilidade”, o que representa um grande desafio coletivo. A rapidez da comunicação e da informação, a exigência de transparência e a maior participação cidadã são elementos que refletem na ação empresarial, ressaltou.

A emergência de conflitos foi citada por Valdéz, como exemplo dos dilemas que o setor empresarial e outros atores devem enfrentar na sociedade contemporânea. Ele citou como exemplo o fato de que, entre 2009 e 2014, dobrou o número de paralisações de vias públicas em Buenos Aires, tendo os chamados grupos de vizinhança como os maiores protagonistas (24%), à frente dos empregados estatais (19%).

O diretor do CEADS ressaltou que as empresas tendem a ser consideradas cada vez mais não apenas como agentes econômicos, mas como atores sociais, devendo procurar agir com inovação para que sejam vistos como “parte da solução” dos múltiplos problemas enfrentados pelas sociedades do mundo contemporâneo.   

Comunidades sustentáveis – O papel das empresas como co-responsáveis pela construção de comunidades sustentáveis foi discutido em várias atividades no IX Fórum Internacional da RedEAmérica.      

Em uma delas, Carolina Alvear, diretora de Sustentabilidade da Femsa, do México, apontou o desafio que representa “a integração de elementos da comunidade ao desenho do negócio”. “Estamos imersos na comunidade, mas não é simples”, reconheceu.

Ela contou que uma das estratégias da Femsa foi a construção de uma matriz de materialidade, em 2012, na qual questões como meio ambiente, valores culturais e outros apareceram de forma destacada. São elementos que a Femsa, uma licenciada da Coca-Cola em vários países do continente, considera em suas ações estratégicas junto às comunidades locais, complementou.

O gerente geral do Instituto Votorantim, Rafael Gioielli, afirmou que na sua opinião as organizações de investimento social privado têm adotado uma perspectiva “mais reativa, de gestão de riscos, e não tanto pela construção de mecanismos que promovam o desenvolvimento sustentável propriamente dito”. Mas ele acredita que haja uma perspectiva muito positiva em termos da ação conjunta entre empresas e comunidades.

De sua parte, Mónica Camisasso, gerente de Relações com a Comunidade da Fundação Arcor, sediada em Córdoba e que portanto foi uma das anfitriãs do IX Fórum da RedEAmérica, destacou a vocação da empresa em atuar com as comunidades onde está inserida. “A Arcor nasceu na província de Córdoba de forma muito próxima da comunidade e assim continuou em sua trajetória”, sublinhou.         

Em 2006, lembrou Mónica, a empresa formalizou o processo de definição de políticas de responsabilidade social e, depois, de sustentabilidade. Os impactos do negócio onde a empresa atua são sempre avaliados e a empresa procurou superar a prática da filantropia, rumo a uma postura de proatividade mais estratégica, de modo a contribuir com o desenvolvimento sustentável, disse a representante da Fundação Arcor.

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